segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Socorro

Alguém quer respirar
Alguém quer ser abraçado
Ninguém mais quer acreditar
Na irrealidade do sonho desperdiçado.

Ela não quer mais ser ilustrada
Por qualquer rascunho.

Ela não quer mais ser um quadro
Pintado a mãos persuasivas e fingidas,
Nem por poemas escritos
Por mãos carentes de sinceridade,
Ou mesmo por fotografias
De uma natureza morta
Como sono sem sonho.


Por que ela ainda sonha
Com um abraço apertado
De vontades nunca satisfeitas
(talvez pela insuficiência da reciprocidade).

Às vezes, lembranças se bastam,
Posto que imaginadas.
E, ainda assim,
Ela aspira pelo encontro concreto.

Ela, a Saudade,
Ainda deseja um encontro
Fora de qualquer arte inanimada.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A troca.

Era noite.
Sob aquele céu azul-tímido, que teimava em se esconder atrás da obscuridade os seus astros covardes e cheios de incertezas, que mal sabia o valor de suas víceras ocultadas pela insegurança de expor todo o seu brilho, estava aquela Luneta, que o admirava da superfície das certezas terrestres. Ela se indignava com a cena superficial vista de longe. E mesmo que forjasse o máximo zoom possível de sua lente, ainda sentiria um distanciamento do recôndito céu.
Ela adorava poder vê-lo, mesmo que pálido e trancado com chaves de solidão. Tudo que a Luneta mais queria, era construir um arranha-céu de ternura, para conquistar a proximidade, encurtar a distância e acertar a chave da porta de ferro do adorado céu. Mas era impossível.
De súbito, pôs-se a chorar enraivecida.
O céu, ah, o céu continuava sem manifesto. Trancafiado.
Fadigada da vã insistência e, pela primeira vez, Luneta sentiu desânimo de observá-lo. Então, fechou-se contra a escuridão de seu interior.
Era dia.
Uma luz amarela audaciosa atravessou sua face acordando-a.
Inocente, deixou-se por enganar pela aurora simpática de todos os dias. E, como todas as outras púberes e ingênuas lunetas, apaixonou-se pelo banal astro-rei. Um popstar, sempre vaidoso e iluminado. Ele não fazia questão de esconder o seu orgulho ao ver o imenso fã-clube dependente de sua luz. Dentre as adoradoras alienadas pelo aparente e conquistador brilho, estava a Luneta, que um dia trocou a noite de um céu duvidoso, por um incerto sol.
Os olhos do dia se fecharam.
Era noite.
Inesperadamente, entra em palco daquele ex-tímido céu azul, uma estrela encantadora, de beleza infinda, e pompa cintilante. Na tentativa de chamar a preciosa atenção da Luneta. Porém, de nada adiantara. Pois a presença tardia do céu, já não fazia mais sentido para ela. Nem mesmo os relâmpagos, trovões e a tempestade que se seguiam não despertava interesse algum na então desiludida luneta.
Ainda noite e o Céu chora (numa sensível transparência como aquela lágrima-de-chuva que caía).

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Tênia


O cão solitário
inocente e cansado
em seu ócio, descança
a beira da estrada,
após andanças.

Peregrino
entre calçada e asfalto
da ironia do destino
observa e é observado
pelo artista sem pena
que fotográfa a conformidade
do miserável
que não ousou olhar para cena
inefável
detrás de suas costas.
Pobre diabo,
não pôde nem perceber
a beleza do azul anil da fé
sobre o verde-esperança.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Sonho

Já que não podemos viajar...
Vamos em sonho. Você daí e eu de cá. Deitados e, ao mesmo tempo, viajando por todo lugar. Num devaneio em comum. Iremos até as nuvens de algodão, se quiser. E quero andar de balão também, vem comigo? Naqueles bem grande, vermelho. Quando pousarmos, estaremos debaixo de uma macieira, você me dará pezinho, e eu subirei para pegar maçã pra gente. Enquanto isso, você estará fitando como um vigia para não deixar que ninguém invada o nosso momento, a nossa viagem. Então, eu descerei, e forraremos às quatro mãos o lençol xadrezinho. Abriremos a

cesta de doces, onde teria beijinho, brigadeiro e quindim.
Pic-nic, pega-pega e esconde-esconde.
Depois de fartos de guloseimas e de termos corrido em círculos ao redor da árvore, numa brincadeira de roda da infância tardia, deitaremos na graminha verde, fofa e úmida, e ali, cairemos num marasmo por alguns preguiçosos minutos.
Acordaremos com a sinfonia dos pássaros e, ao olharmos um ao outro, riríamos das nossas caras ainda amassadas, para depois nos apertarmos num eterno abraço (acreditando que assim não acordaríamos nunca).

E ninguém vai invadir, pois os cercamentos de rosas , aparentemente atraentes e sentimentalmente espinhosas, não vão deixar ninguém ultrapassar, pois o sonho pertence a nós, é nosso! E eu não quero compartilhar com mais ninguém a viagem mais bem imaginada, e tão sonhada da minha vida. Que um dia há de deixar de ser tão surreal e se concretizar...

[Se VOCÊ ainda estiver dormindo, faça das reticências completude do nosso sonho, dando linha a ele, por favor.]

Sinestesia

Escuto o barulho do sol batendo na janela
Que me tira a atenção e me faz voltar para ela
Em um giro de 90° a luz me deixa respirar
Clareando as minhas idéias
E minhas angústias a defenestrar .
:S

domingo, 4 de novembro de 2007

Simples

Simples como a própria palavra
complexa para um analfabeto
mediana para medíocres
simples, adorável doce
ou
dos mais terríveis doces
aqueles que te trás prazeres volúpios e efêmeros
que não enche barris de água (ou algo mais amargo),
pois estão perfurados pelas dores da desilusão
como doce ouropél, falso e chamativo.
ou
aqueles que se adequam ao nome
doce, que adoçam a vida.
Pois são eles, a própria vida.
Enchem barris de mel, mas não enjoa,
simplesmente porque estes barris não tem furos,
e assim, satisfatoriamente preenchem a vida simples
tão simples quanto este poema sem rimas.
Só porque ''a vida é um doce...doce mel."