segunda-feira, 27 de outubro de 2008

o anti-social, ou anti-superficial.

Esse menino de vermelho precisa de invólucro.
Sentado, os pés hiperativos fazem batuque no assoalho, as mãos, à procura de distração tomam a taça sobre a mesa. Bebe, bebe com uma sede breve e melancólica. Seus olhos fugidios não encontram alguém que possa ser de sua família. Como é possível? Se na mesma mesa, seu pai e sua mãe tagarelam, e sua irmã, de um cabelo liso tão semelhante ao seu, come com classe um salgadinho, fechando o círculo dos superficiais?
Esse menino, de traje impróprio e inseguro, que se sente tão diferente dos outros, precisa ser ouvido. Ele precisa de alguém que lhe dê atenção, que lhe dê abraço.
O que ele não sabe, é que quando se sentir protegido, vai clamar por liberdade.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Chronos

Meus pensamentos turvos se opõem à razão que você tanto busca me impor.
O gosto dos seus conselhos tem efeito anuviante, deixando-me cinza e efusiva.
Não gosto.
O tamanho da minha arrogância nisso ainda é menor que a sua prepotência.
Não me chamo mais Menina. Respeite o tempo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Depois do casulo.

Tenta recordar, ele, ela, juntos. Um surto de vaidade o fez olhar no espelho mais atentamente. Novos contornos, espessuras, superfície antes lisa e branda, agora brotava rosa de broto amarelo. O refletor que cobria dos pés aos cabelos, reflete agora somente aquilo que lhe é simbólico. Ela não cabe mais dentro dele. A perfeita simbiose se desfaz, ficando apenas os estilhaços em fotos recortadas e recordadas. O apoptose dos sentidos foi brusco, por pouco ele não se adaptou à voz estremecida, indecisa, que por fim afinou-se. Rouca, com insinuações maduras. Ela, arredondada como uma pêra, deixou de lado o Tesouro da Juventude, o pique, o carrinho e a boneca. Era hora de aprender a lidar com o vermelho. Vermelho em dois tons, um físico, outro afetivo. O espelho apontava nela o significativo dos traços rugosos. O ferrugem nele ferro fazia se sentir sólido estático. Eles fecham os olhos com medo dessa janela - espelhar, medo medo medo, covardes são. Mas quem aceita de bom grado mudanças? Quem se arrisca a sair eternamente do casulo metamórfico, e não ser mais você, ele ou ela, ambos? Imagem fragmentada mostra a escamação pubiana, escamoteados pela timidez. Casca seca, rachaduras; é preciso trocar de roupa.