segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Depois do casulo.

Tenta recordar, ele, ela, juntos. Um surto de vaidade o fez olhar no espelho mais atentamente. Novos contornos, espessuras, superfície antes lisa e branda, agora brotava rosa de broto amarelo. O refletor que cobria dos pés aos cabelos, reflete agora somente aquilo que lhe é simbólico. Ela não cabe mais dentro dele. A perfeita simbiose se desfaz, ficando apenas os estilhaços em fotos recortadas e recordadas. O apoptose dos sentidos foi brusco, por pouco ele não se adaptou à voz estremecida, indecisa, que por fim afinou-se. Rouca, com insinuações maduras. Ela, arredondada como uma pêra, deixou de lado o Tesouro da Juventude, o pique, o carrinho e a boneca. Era hora de aprender a lidar com o vermelho. Vermelho em dois tons, um físico, outro afetivo. O espelho apontava nela o significativo dos traços rugosos. O ferrugem nele ferro fazia se sentir sólido estático. Eles fecham os olhos com medo dessa janela - espelhar, medo medo medo, covardes são. Mas quem aceita de bom grado mudanças? Quem se arrisca a sair eternamente do casulo metamórfico, e não ser mais você, ele ou ela, ambos? Imagem fragmentada mostra a escamação pubiana, escamoteados pela timidez. Casca seca, rachaduras; é preciso trocar de roupa.

Um comentário:

Pedro H.D.Delavia disse...

Queria opinar em uma das três opções, mas não achei a melhor que seria: reflexivo. Quantos de nós não sabemos sequer sair de nossos casulos? Vivendo em ilusões e devaneios que chamamos de realidade. A vida é pra ser vivida, do lado de fora do casulo, não no aconchego da ignorância. Adorei o seu texto e sua forma descritiva. Quero mais, sempre. Beijos